Alguns atletas nem sempre foram atletas paralímpicos. É o caso de Tuany Barbosa. A carioca de 26 anos começou aos 8 no judô convencional, graças a um projeto social na comunidade do Jacarezinho. Aos 12, já estava em suas primeiras competições. Em 2014, sofreu um acidente durante um torneio e perdeu o movimento da perna direita do joelho para baixo. Cinco anos depois, ela se prepara para sua primeira competição continental no atletismo: os Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019.
O acidente foi no Grand Prix de Judô, em São José dos Campos (SP). Ela lutava contra a cubana Idalys Ortiz, campeã olímpica, quando sua perna ficou “presa” no tatame: “Até hoje não sabemos como ficou presa. Ela deu um O-soto-gari, um dos golpes mais básicos do judô. Minha perna torceu, virou, fez um S. Lembro que na hora eu caí no chão gritando de dor. Meus amigos vieram correndo até o tatame. Eu desmaiei umas três vezes. Mas acho que tinha que acontecer”, comenta a ex-judoca.
Tuany rompeu todos os ligamentos do joelho, além do nervo fibular. Como sequela, a atleta não tem sensibilidade do joelho para baixo. Ela revela que o pós-hospital foi a parte mais difícil: “Eu fiquei praticamente um ano internada, lutando para não amputar a perna. Depois que tive alta, tinha ainda o processo de recuperação, que acho que foi quando fiquei mais triste. Eu era superativa e, aos 21 anos, minha mãe e minha irmã tiveram que passar a cuidar de mim.”
Recomeço no esporte
Flávio Canto, grande nome do judô convencional, ligava para a atleta com frequência para saber como estava. Embaixador Paralímpico, encaminhou-a ao CPB. Em 2016, ela veio assistir ao Open Loterias Caixa no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. Conferiu as modalidades de natação, halterofilismo e atletismo, mas ainda não se engajou. Em 2017, retornou ao CT e dessa vez, saiu decidida a treinar.
“Eu comecei a prestar um pouco mais de atenção no arremesso de peso. Por coincidência, quando voltei pela segunda vez, conheci a Raíssa Machado no aeroporto. Ela disse que eu daria uma boa arremessadora e começou a me incentivar. O professor João Paulo veio conversar comigo, falou que eu tinha o perfil perfeito pro arremesso. Ele ligou para quem viria a ser o meu treinador, Fernando Oliveira. No dia seguinte, quando voltei ao Rio, já tinha praticamente treinador e equipe”, conta a atleta que se classificou na classe F57, para pessoas que competem em cadeiras de rodas por sequelas de poliomielite, lesões medulares e/ou amputações.
Como judô e atletismo são modalidades totalmente diferentes, Tuany teve que aprender muita coisa: “É bem diferente. No judô, eu usava bastante a perna, colocando força. Agora mudei para a cadeira e passei a usar mais tronco. No judô, o atleta puxa bastante, no atletismo, é o contrário, eu tenho que empurrar bastante. São modalidades opostas.”
Três anos foi o tempo que levou para Tuany conhecer a modalidade e ser convocada para os Jogos Parapan-Americanos de Lima, que começam dia 23 de agosto. Mas nada fora do planejado: “Meu treinador disse: ‘no primeiro ano, você vai aprender e entender o que é atletismo paralímpico. No segundo, você vai competir e no terceiro ano vai se classificar para as competições’. Eu pensei que ele era doido, porque eu não sabia nada.”
Em menos de 20 dias, atleta estará em solo peruano, onde irá competir nas provas de arremesso de peso e lançamento de disco. A meta é trazer o ouro. “A expectativa está bem alta. Estou ansiosa, mas pretendo me manter com o pé no chão e fazer o que planejamos. Eu vou chegar lá para conhecer e já mirar no próximo objetivo. Se Deus quiser e permitir, eu estarei ano que vem em Tóquio. E o Parapan vai ser só um ensaio para isso.”
Fonte: Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)
Foto: Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB