Uma paralisia obstétrica no braço direito fez com que o atleta paralímpico de Taekwondo, Pedro Neves, de 43 anos, usasse os pés para ganhar o mundo. Nascido e criado no Morro do Cavalão, Zona Sul de Niterói, ele saiu há dois anos da comunidade para lutar pela Seleção Brasileira. O Campeonato Mundial paralímpico da modalidade, em Instambul, na Turquia, acontece em dezembro.
Como todo jovem, negro e sonhador da favela, Pedro não se deteve e escolheu o esporte como rota de fuga para compensar a rotina árdua de quem mora em comunidade. Devido ao contato com diversas modalidades, o atleta acabou se encontrando na arte marcial sul-coreana.
“Na minha adolescência, na procura de emprego, achei a Andef conheci o esporte paralímpico e ali sempre gostava de jogar futebol, até jogar profissionalmente. Ficamos em 3º lugar no campeonato de 2006 no Mato Grosso do Sul. Dali fui trocando, passei por natação, atletismo e fiz várias modalidades, até ser recordista do Brasil e das Américas, de 2012 a 2016, no salto à distância, quando ganhei, em 2015, medalha de ouro no Canadá. Em 2019 eu recebi o convite por já ter praticado taekwondo e fiquei em 3º no campeonato brasileiro. No dia 7 de novembro me tornei campeão brasileiro em São Paulo”
Persistência e superação
O sucesso na luta veio com muita persistência e treino, conta ele, que em menos de dois anos conseguiu ser convocado, junto com mais 18 atletas, para tentar o lugar mais alto do pódio fora do país.
“Esse mundial é a primeira oportunidade de passaporte para as Olimpíadas de Paris 2024. Hoje o Brasil é o país número 1 do ranking na modalidade e quero ajudar a manter isso“
A idade de Pedro parece não atrapalhar seu desempenho. A questão, inclusive, é logo minimizada por ele: “Se você tiver alto rendimento, para o vigor físico não há limite”.
O atleta lista ainda os percalços e as dificuldades de se viver profissionamente do esporte no Brasil – e analisa o atual cenário.
“Vejo ainda com muita falta de incentivo. A Rio 2016 veio para mostrar as modalidades no Brasil, hoje 10% ganharam alguma visibilidade, mas ainda está longe do ideal. Os atletas convencionais não possuem incentivo e planejamento adequados”
Referência
O atleta diz que virou uma espécie de vitrine na comunidade, principalmente para as crianças, quando chega e visita seus familiares no Cavalão.
“Deixei o Cavalão tem dois anos, mas sempre estou por lá, tenho família lá. Ganhei visibilidade dentro da comunidade e virei uma referência. Quando vou lá, as crianças vêm falar, cumprimentar e comentar o que eu fiz. Já estou até imaginando como vai ser”, projeta ele que, atualmente, dirige um projeto social no Barreto, na Zona Norte de Niterói, onde atende cerca de 70 pessoas, a partir dos 6 anos, para inserção na prática de esportes.
Pedro tem também um projeto futuro de reunir em um livro as suas memórias e trajetórias no esporte, relatando seus feitos, as viagens, por onde colecionou medalhas e as realizações pessoais e para o esporte brasileiro.